sábado, 17 de dezembro de 2011

Como preparar um sermão expositivo

Como Preparar Sermões Expositivos

por

John Stott



Havia um pastor episcopal que era muito preguiçoso e há muito tempo já havia desistido de preparar os seus sermões. Sua congregação era de pessoas de pouco cultura, Ele tinha o dom da oratória, de modo que era muito fácil para ele pregar sem qualquer preparação. Além de preguiçoso, ele também era muito piedoso, de modo que racionalizava sua preguiça como muitas vezes os piedosos fazem. Ele fez um voto muito solene: jamais voltaria a preparar os seus sermões, falaria de improviso e confiaria que o Espírito Santo lhe daria o que falar. Por alguns meses, tudo correu muito bem.

Certo dia, faltando 10 minutos para as 11 horas, na manhã de domingo, um pouco antes de o culto começar, quem entra pela porta da igreja? O bispo. Era uma visita de surpresa. Ele sentou-se num dos bancos. O pastor ficou imaginando o que deveria fazer. Não havia preparado o seu sermão. Pensou que podia enganar a congregação, mas sabia que não conseguiria enganar o visitante. Ele foi até ao bispo, cumprimentou-o e lhe disse: “Acho que devo explicar-lhe uma coisa. Alguns anos atrás eu fiz um voto de que nunca iria preparar os meus sermões, mas confiaria no Espírito Santo”. “Está tudo bem”, disse o bispo, compreendendo muito bem a situação. O culto começou, mas, no meio do sermão, o bispo levantou-se e saiu. Quando o culto terminou, o pastor foi para o vestíbulo da igreja. Encontrou sobre a mesa um bilhete com a letra do bispo e nele estava escrito o seguinte: “Eu te absolvo do teu voto”.

Agora quero contar-lhes outra história, desta vez, de um pastor presbiteriano arrogante. Este pastor morava ao lado da igreja. Ele costumava vangloriar-se de que todo tempo que precisava para se preparar era o tempo que gastava para ir de casa à igreja. Você pode imaginar o que os presbíteros fizeram. Mudaram a casa para 8 km de distância. Assim, ele tinha mais tempo para preparar os sermões.

Agora, para os batistas eu queria citar o caso de Spurgeon ter como hábito vir ao púlpito despreparado. Dizer isso de Spurgeon seria um erro imperdoável!

Espero que concordem comigo que temos que preparar nossos sermões. Como fazer isto? É uma questão muito subjetiva. Não há maneira única de preparar sermões. Cada pastor tem que fabricar o seu próprio método. Seria um erro simplesmente copiar um do outro. No entanto, penso que a maioria passa por 5 estágios na preparação depois de ter escolhido o texto. É sobre esses que quero falar-lhes. Vamos partir do princípio de que você já tenha escolhido o texto.


1º. Estágio - Meditar sobre o texto

É necessário ler e reler o texto bíblico. Depois tem que lê-lo e relê-lo mais uma vez. É preciso fazê-lo girar em sua mente, vez após vez. É necessário ruminá-lo como o animal bovino rumina o capim. Sugá-lo como o beija-flor suga a flor. Chupá-lo como uma criança chupa uma laranja, até que não haja mais nada para tirar dela. É preciso preocupar-se com o texto como um cachorro preocupa-se com o seu osso. Essas são algumas metáforas que mostram como você pode envolver-se com o texto.

Talvez você esteja se perguntando: o que significa a palavra “meditar”? Acho que é uma combinação de estudo e oração. Gosto de passar o tempo de meditação ajoelhado, com a Bíblia aberta à minha frente, não porque eu adore a Bíblia, mas porque adoro o Deus da Bíblia. A posição de estar de joelhos é uma posição de humilde expectativa. À medida que eu estudo aquele texto, usando a mente que Deus me deu, estou clamando ao Espírito Santo por iluminação. Meditação é estudo regado com oração.

Conheço pastores que são grandes estudantes. Precisavam ver as suas bibliotecas. As paredes estão cobertas de livros. E sobre suas mesas há pilhas e pilhas de comentários, de dicionários e de chaves bíblicas. Parecem estar sempre afogados em livros. Eu admiro seu estudo, mas eles não oram muito.

Eu conheço pastores que cometem o erro oposto. São grandes homens de oração, mas não estudam muito. Vamos manter juntos estudo e oração. 2 Timóteo 2.7 é um grande texto. Nele, Paulo escreve: "Considera o que digo, porque Deus te dará compreensão em todas as coisas" . Nós fazemos a nossa parte, que é estudar ou considerar, e Deus dá o entendimento. Não devemos separar aquilo que Deus uniu.

Enquanto você medita, é bom fazer perguntas a si mesmo. Pergunte-se: “O que o texto quer dizer?”, “O que o texto diz?”. Primeiro, você estará tratando do significado do texto e, em segundo lugar, você estará tratando da mensagem do texto para o dia de hoje.

Precisamos perguntar-nos as duas coisas. Precisamos perguntá-las na hora certa. Muitos pastores estão tão ansiosos em conseguir uma mensagem para hoje, que não se disciplinam em descobrir o significado do texto, e não chegam a descobrir a sua mensagem para os dias de hoje. Precisamos manter os dois juntos, em equilíbrio.

Não posso falar agora sobre interpretação bíblica, mas quero dar-lhes um princípio básico. Foi enunciado por um homem chamado E.D. Hirsh. Seu livro é chamado "Validade na Interpretação". Nesse livro ele não trata apenas de intepretação bíblica.

Os princípios são os mesmos quando você interpreta qualquer documento. Pode ser um documento literário, um documento legal ou um documento bíblico. O grande princípio é o seguinte: O texto quer dizer aquilo que seu autor quis dizer. Portanto, a pergunta é: "O que o autor quis comunicar quando ele escreveu?".

Devemos pensar sobre as palavras e o que elas significaram quando ele as usou. Não podemos interpretar até ouvirmos o que o autor quis dizer com suas palavras. Eu lhes imploro que não omitam esse estágio da sua preparação. É uma disciplina essencial para cada um de nós. Mas também não podemos parar aí.

Uma vez entendido o significado do texto, vamos descobrir o que ele diz para nós hoje. Podemos pensar sobre as pessoas em nossa congregação e nos perguntar: "o que o texto tem a dizer para eles?". Nesses dois estágios não há qualquer substituto para o tempo.

Dê a si mesmo tempo para meditar. Não corra para pegar os comentários cedo demais. Faça a sua meditação própria, com a Bíblia aberta, de joelhos, usando
a iluminação do Espírito, usando a sua mente. Durante todo esse tempo vá escrevendo seus pensamentos. Não precisa haver uma ordem particular para isso. Qualquer pensamento que venha à sua mente é digno de ser escrito. Aqui chegamos, então, ao segundo estágio.


2º. Estágio - Isole o pensamento dominante

Todo texto tem um tema principal. Devemos meditar sobre ele até que esse princípio central surja. Qual é a ênfase principal da Palavra de Deus nesta passagem? O que Deus está dizendo neste texto? Nosso dever é meditar e orar para penetrarmos neste texto; até que nos submerjamos nele; até que ele passe a controlar a nossa mente e a colocar em fogo nosso coração; e até que nos tornemos servos do texto.

Alguns pregadores não são servos, mas senhores do texto. Eles torcem e manipulam o texto de modo a fazê-lo dizer o que eles querem. Temos que nos arrepender quando fazemos isso com a Palavra de Deus. Devemos permitir que a Palavra de Deus nos controle e não controlar a Palavra de Deus.


3º. Estágio - Prepare o material para ajudar o pensamento dominante

Há duas coisas que vão ajudar nisto. A primeira é negativa e a segunda positiva. Em primeiro lugar, seja impiedoso em rejeitar o que é irrelevante. O que temos diante de nós até agora é uma porção de idéias que, sem pensar, nós escrevemos e aqueles pensamentos dominantes que já deixamos bem claros. Temos agora que colocar em ordem todo esse material de modo que ele se subordine e siga o pensamento dominante.

Muitos de nós achamos essa tarefa muito difícil. Talvez tenhamos idéias cintilantes, talvez tivemos pensamentos abençoados que anotamos no papel e queremos arrastá-los para o sermão de qualquer maneira. Não o faça! Tenha a coragem de deixá-los de lado. Eles se tornarão úteis em alguma outra ocasião. Mas se eles agora não servem ao pensamento dominante, deixe-os fora. Isso exige grande determinação mental. Em segundo lugar, devemos subordinar o material de modo que ele sirva ao tema.Isso me leva a dizer algo sobre estrutura, palavras e ilustrações.

Todo sermão tem que ter uma estrutura. Muitos pregadores, é claro, têm três pontos. É possível ter apenas dois, ou quatro, ou até mesmo 5, como acontece comigo agora. Mas é impressionante a frequência com que nós voltamos aos três pontos. Há uma condição que é essencial para uma boa estrutura: Ela deve ser natural e não artificial.

Alguns de vocês já devem ter ouvido falar de Alexander Maclaren. Foi um grande pastor batista na lnglaterra, no século passado. Algumas de suas exposições da Bíblia ainda são impressas hoje. Ele era especialista nesta estrutura natural. Os amigos costumavam dizer que ele guardava algo em seu bolso. Era um pequeno martelo dourado. Com esse martelo dourado ele batia sobre o texto. À medida que ele batia sobre o texto, esse se abria nas suas divisões naturais. É disto que todos nós precisamos: de um martelinho dourado.

Mudando a metáfora, as divisões do texto têm que se abrir como as pétalas de uma rosa abrindo-se ao sol. É importante que dividamos a Palavra de Deus naturalmente, não impondo uma estrutura artificial sobre o texto.

As palavras também são extremamente importantes. Todos percebemos isso quando temos que mandar um telegrama. Temos apenas 12 ou 15 palavras e passamos muito tempo preparando a nossa mensagem de modo que nossas palavras não sejam mal entendidas.

Cremos que Deus Se deu ao mesmo trabalho. Creio na inspiração verbal da Bíblia, ou seja, que a inspiração se estendeu às mesmas palavras que Deus escreveu. Se as palavras foram tão importantes para Deus, tem que ser importantes para nós.

Não estou sugerindo aqui que leiamos os nossos sermões. Creio, porém, que é uma boa disciplina na nossa preparação, que escolhamos bem as palavras que vamos usar para expressar os nossos pensamentos. Além de exatas, as palavras têm que ser simples. Não tem sentido falar como se tivéssemos engolido um dicionário.

Sejamos simples no nosso palavreado e também vívidos, de modo que as palavras transmitam uma imagem mental às pessoas que estão ouvindo. Quero particularmente exortar os pregadores mais jovens a levarem bastante tempo escrevendo e preparando o sermão. Só depois de termos feito isso durante 5 ou 10 anos é que vamos aprender a colocar os nossos pensamentos em palavras claras.

Agora, as ilustrações. Eu sei que uma das minhas fraquezas na área da pregação é que não uso ilustrações suficientes. A mesma coisa acontece com meus livros. Depois que um dos meus livros havia sido publicado, um amigo me escreveu profundamente crítico quanto àquela obra contendo tão poucas ilustrações: "Seu livro é como uma casa sem janelas; é como um bolo sem frutas".

Achei que as observações do meu amigo foram muito rudes, mas, infelizmente, elas eram bem exatas. Por isso todos nós precisamos de ilustrações. Qual o propósito de uma ilustração? É tornar concreto o que é abstrato.

Alguns minutos atrás eu escrevia sobre meditação. “Meditação” é uma palavra abstrata. Muitas pessoas nem sabem o que é meditação, de modo que eu tentei torná-la uma palavra concreta. Eu lhes dei quatro imagens sob forma de palavras. Devemos ruminar o texto, como uma vaca rumina o capim. Penetrá-lo, como um beija-flor penetra a flor. Preocuparmo-nos com ele como o cachorro se preocupa com seu osso.

Passamos da vaca para o beija-flor, do beija-flor para a criança, da criança para o cachorro. Cada uma dessas coisas era uma imagem em sua mente. Eu usei essas ilustrações deliberadamente, a fim de transformar o que era abstrato em algo concreto.

Há um provérbio oriental que explica isso: “eloqüente é aquele que consegue transformar o ouvido em olho, de modo que os seus ouvidos possam ver aquilo que ele fala”. Portanto, temos que usar a nossa imaginação, para que as pessoas vejam o nosso pensamento.

Fonte: Monergismo.com

sábado, 3 de dezembro de 2011

Detalhes - Sobre a bíblia





1-O nome "Bíblia" vem do grego "Biblos", nome da casca de um papiro do século XI a.C.. Os primeiros a usar a palavra "Bíblia" para designar as Escrituras Sagradas foram os discípulos do Cristo, no século II d.C.;

2-Ao comparar as diferentes cópias do texto da Bíblia entre si e com os originais disponíveis, menos de 1% do texto apresentou dúvidas ou variações, portanto, 99% do texto da Bíblia é puro. Vale lembrar que o mesmo método (crítica textual) é usado para avaliar outros documentos históricos, como a Ilíada de Homero, por exemplo;

3-É o livro mais vendido do mundo. Estima-se que foram vendidos 11 milhões de exemplares na versão integral, 12 milhões de Novos Testamentos e ainda 400 milhões de brochuras com extratos dos textos originais;

4-Foi a primeira obra impressa por Gutenberg, em seu recém inventado prelo manual, que dispensava as cópias manuscritas;

5-A divisão em capítulos foi introduzida pelo professor universitário parisiense Stephen Langton, em 1227, que viria a ser eleito bispo de Cantuária pouco tempo depois. A divisão em versículos foi introduzida em 1551, pelo impressor parisiense Robert Stephanus. Ambas as divisões tinham por objetivo facilitar a consulta e as citações bíblicas, e foi aceita por todos, incluindo os judeus;

6-Foi escrita e reproduzida em diversos materiais, de acordo com a época e cultura das regiões, utilizando tábuas de barro, peles, papiro e até mesmo cacos de cerâmica;

7-Com exceção de alguns textos do livro de Ester e de Daniel, os textos originais do Antigo Testamento foram escritos em hebraico, uma língua da família das línguas semíticas, caracterizada pela predominância de consoantes;

8-A palavra "Hebraico" vem de "Hebrom", região de Canaã que foi habitada pelo patriarca Abraão em sua peregrinação, vindo da terra de Ur;

9-Os 39 livros que compõem o Antigo Testamento (sem a inclusão dos apócrifos) estavam compilados desde cerca de 400 a.C., sendo aceitos pelo cânon Judaico, e também pelos Protestantes, Católicos Ortodoxos, Igreja Católica Russa, e parte da Igreja Católica tradicional;

10-A primeira Bíblia em português foi impressa em 1748. A tradução foi feita a partir da Vulgata Latina e iniciou-se com D. Diniz (1279-1325).

AVIVAMENTO NOS DIAS DE JONATHAN EDWARDS



Autor: Alderi Souza de Matos 

Introdução.

  • Jonathan Edwards, um pastor congregacional que viveu no século XVIII, é hoje considerado pelos historiadores um dos maiores teólogos e pensadores da história dos Estados Unidos. Ele foi não somente um dos instrumentos do primeiro grande reavivamento ocorrido naquele país, mas o maior estudioso e intérprete desse fenômeno.
  • Através de vários livros que escreveu, ele analisou os eventos cuidadosamente, em seus diferentes aspectos. Em essência, Edwards apoiou alegremente o reavivamento, vendo nele a manifestação genuína do Espírito de Deus, mas também foi um crítico severo dos desvios, exageros e impropriedades que por vezes ocorreram. Uma de suas principais preocupações foi mostrar em seus escritos quais os critérios pelos quais se pode reconhecer a autenticidade de uma experiência religiosa dessa natureza.

  1. Contexto Religioso

  • Quando Jonathan Edwards iniciou o seu ministério, a sua região, a Nova Inglaterra, já havia sido colonizada pelos ingleses há cem anos. Os colonizadores foram os famosos puritanos, calvinistas que lutaram por uma igreja mais pura no seu país de origem e que eventualmente foram para o Novo Mundo a fim de viverem sem impedimentos de acordo com as suas convicções.
  • Ao chegarem a Massachusetts, primeiro a Plymouth in 1620 e depois a Salem e Boston em 1629-30, eles procuraram edificar uma comunidade verdadeiramente cristã e uma igreja composta de pessoas convertidas e consagradas a Deus. Apesar de alguns problemas, e de certa intolerância para com outras pessoas e grupos que pensavam de maneira diferente, eles conseguiram realizar esse ideal por algum tempo.
  • Eventualmente, depois de um período inicial de sofrimentos e provações amargas, os colonos prosperaram materialmente na nova terra cheia de tantas oportunidades. No final do século XVII, a vida na Nova Inglaterra era em grande parte pacífica e confortável. A maioria das pessoas pertenciam à classe média e quase não havia pobreza. O nível educacional também era relativamente alto.
  • Todo esse progresso havia sido alcançado por causa dos valores religiosos e éticos dos puritanos, como o seu amor ao trabalho, sua disciplina de vida, sua rejeição de vícios e a preocupação em serem bons mordomos das bênçãos de Deus.
  • Porém, juntamente com a prosperidade material, ocorreu um declínio no fervor religioso entre as novas gerações. O cristianismo de muitos tornou-se meramente nominal; o mundanismo e a apatia espiritual tornaram-se generalizados. Além disso, novas ideologias vindas da Europa, o racionalismo e o iluminismo, com sua ênfase na razão e na capacidade humana, também estavam influenciando muitas pessoas.
  • Nesse ambiente desanimador, pastores e membros das igrejas oravam por um reavivamento das energias espirituais do povo de Deus. E isto ocorreu através do Grande Despertamento (1720s-40s), o primeiro evento da história norte-americana a atingir pessoas das diferentes colônias com um interesse religioso comum.

  1. Jonathan Edwards

  • Jonathan Edwards nasceu em 1703, sendo filho de um consagrado ministro congregacional. Precoce e piedoso desde a sua meninice, aos 12 anos ele escreveu a uma de suas irmãs: "Pela maravilhosa misericórdia e bondade de Deus, tem ocorrido neste lugar uma extraordinária atuação e derramamento do Espírito de Deus... tenho razões para pensar que isso diminuiu em certa medida, mas espero que não muito. Cerca de treze pessoas uniram-se à igreja num estado de plena comunhão." Depois de dar os nomes dos convertidos, ele acrescentou: "Acho que muitas vezes mais de trinta pessoas se reunem às segundas-feiras para falar com o Pai acerca da condição das suas almas."
  • Edwards obteve o seu grau de bacharel no Colégio de Yale em 1720, onde continuou seus estudos teológicos e trabalhou como professor assistente por algum tempo. Após um breve pastorado numa igreja presbiteriana de Nova York, em 1726, aos 23 anos de idade, ele foi auxiliar o seu avô, Salomão Stoddard, o famoso pastor da igreja de Northampton, Massachusetts.
  • No ano seguinte, Jonathan casou-se com Sarah Pierrepont, então com 17 anos de idade, filha de um pastor bem conhecido e bisneta do primeiro prefeito de Nova York. Os historiadores destacam a harmonia, amor e companheirismo que sempre caracterizou a vida do casal. Eles gostavam de andar a cavalo ao cair da tarde para poderem conversar e antes de se deitarem sempre tinham juntos os seus momentos devocionais.
  • Jonathan e Sarah tiveram 11 filhos, todos os quais chegaram à idade adulta, fato raro naqueles dias. Em 1900, um repórter identificou 1400 descendentes do casal Edwards. Entre eles houve 15 dirigentes de escolas superiores, 65 professores, 100 advogados, 66 médicos, 80 ocupantes de cargos públicos, inclusive 3 senadores e 3 governadores de estados, além de banqueiros, empresários e missionários.
  • Em 1729, com a morte do seu avô, Jonathan tornou-se o pastor titular da igreja de Northampton, na qual, através de sua poderosa pregação, ocorreu um grande avivamento cinco anos mais tarde (1734-35). O Grande Despertamento tivera os seus primórdios alguns anos anos entre os presbiterianos e reformados holandeses na Pensilvânia e Nova Jérsei, cresceu com as pregações de Edwards e atingiu o seu apogeu no ano de 1740, com o trabalho itinerante do grande avivalista inglês George Whitefield (1714-1770). [Sobre o avivamento entre os presbiterianos, ver o recente artigo do Rev. Frans L. Schalkwijk, "Aprendendo da História dos Avivamentos," em Fides Reformata II-2.]
  • Em 1750, após 23 anos de pastorado, Jonathan Edwards foi despedido pela sua igreja, a razão principal sendo a sua insistência em que somente pessoas convertidas deviam participar da Ceia do Senhor, em contraste com a prática anterior do seu avô. No seu sermão de despedida, depois de advertir a igreja sobre as contendas que nela havia e os perigos que isto representava, ele concluiu: "Portanto, eu quero exortá-los sinceramente, para o seu próprio bem futuro, que tomem cuidado daqui em diante com o espírito contencioso. Se querem ver dias felizes, busquem a paz e empenhem-se por alcancá-la (1 Pe 3:10-11). Que a recente contenda sobre os termos da comunhão cristã, por ter sido a maior, seja também a última. Agora que lhes prego o meu sermão de despedida, eu gostaria de dizer-lhes, como o apóstolo disse aos coríntios, em 2 Co 13:11: "Quanto ao mais, irmãos, adeus! Aperfeiçoai-vos, consolai-vos, sede do mesmo parecer, vivei em paz; e o Deus de amor e de paz estará convosco."
  • No ano seguinte, Edwards foi para Stockbridge, uma região remota da colônia de Massachusetts, onde trabalhou como pastor e missionário entre os índios. Em 1757, a sua excelência como educador e sua fama como teólogo e filósofo fez com que ele fosse convidado para ser o presidente do Colégio de Nova Jérsei, a futura Universidade de Princeton. Um mês após a sua posse, Edwards faleceu devido a complicações resultantes de uma vacina contra varíola.

  1. Jonathan Edwards e o Avivamento

  • A maior contribuição de Jonathan Edwards para a igreja evangélica está nos importantes livros que escreveu como teólogo e intérprete do avivamento. Curiosamente, sua obra mais conhecida é pouco representativa do seu pensamento como um todo. Trata-se do célebre sermão "Pecadores nas mãos de um Deus irado," que ele pregou na cidade de Enfield em 1741. A ênfase maior dos seus escritos e sermões não está na ira de Deus, e sim na sua majestade, glória e graça.
  • Além de muitas conversões e santificação de vidas, o Grande Despertamento também aprofundou uma divisão entre os líderes que eram favoráveis ao avivamento e aqueles que não eram. O problema ficou mais sério quando, após a obra de pregadores sérios e equilibrados com Edwards e Whitefield, surgiram imitadores sensacionalistas que manipulavam emocionalmente as pessoas. O Dr. Lloyd-Jones diz que Edwards lutou em duas frentes: contra os adversários do avivamento e contra os extremistas; contra o perigo de extinguir o Espírito e contra o perigo de deixar-se levar pela carne e ser iludido por Satanás.
  • Nesse contexto, Edwards propos-se a defender o avivamento como obra do Espírito de Deus, ao mesmo tempo que combateu os excessos e desvios que muitas vezes ocorriam. Foi nesse sentido que ele escreveu vários livros de grande valor, o primeiro deles sendo a Narrativa Fiel da Surpreendente Obra de Deus (1736-37), em que descreveu o recente despertamento em sua cidade e regiões vizinhas. Alguns anos depois, ele escreveu Alguns Pensamentos sobre o Atual Reavivamento da Religião na Nova Inglaterra (1742), analizando o movimento mais amplo. Esta obra baseia-se parcialmente em algumas profundas experiências espirituais da sua esposa Sarah.
  • Em 1746, Edwards publicou a sua obra mais amadurecida sobre o assunto, o seu Tratado sobre as Afeições Religiosas (resultou de uma série de sermões sobre 1 Pedro 1:8), no qual argumentou que o cristianismo verdadeiro não se evidencia pela quantidade ou intensidade das emoções religiosas, mas por um coração transformado que ama a Deus e busca o seu prazer. Ele faz uma análise rigorosa das diferenças entre a religiosidade carnal, que produz muita comoção, e verdadeira espiritualidade, que toca o coração com a visão da excelência de Deus e o liberta do egocentrismo.
  • Como bom calvinista que era, Edwards também escreveu algumas obras em defesa das convicções reformadas acerca da incapacidade moral e espiritual dos seres humanos e sua profunda necessidade da graça transformadora de Deus: A Liberdade da Vontade (1754) e O Pecado Original (1758).

  1. A Genuína Experiência Religiosa

  • Nos seus escritos, Jonathan Edwards avaliou a experiência religiosa à luz das Escrituras e das suas convicções reformadas. O ponto de partida da sua pregação e da sua teologia foi o Deus soberano, em sua majestade, graça e glória. Esse Deus criou o universo e o ser humano para manifestar a sua grandeza e o seu amor. A majestade e a graça de Deus também se revelam de modo supremo no envio de Cristo para redimir os pecadores.
  • Nenhum avivamento ou experiência religiosa é genuína se não realçar esse Deus sublime em sua soberania, graça e amor. O critério principal é este: se quem está no centro das atenções é Deus ou o ser humano. Para que Deus esteja no centro é necessário, em primeiro lugar, que haja nos corações um profundo senso de incapacidade, de dependência de Deus, e de convicção da nossa pecaminosidade. Além disso, é preciso que haja a consciência de que toda genuína experiência religiosa é fruto da atuação do Espírito de Deus, que transforma e santifica os pecadores, capacitando-os a amar e honrar a Deus em suas vidas.
  • Portanto, todas as teorias de salvação que dão ênfase às obras humanas ou à capacidade humana só desmerecem a grandeza do amor de Deus revelado a nós em Cristo Jesus e tornado real em nossos corações somente pela iluminação do Espírito Santo.
  • Edwards crê na necessidade de transformação do ser humano. A moralidade externa não é suficiente, daí a importância da conversão. Por outro lado, para aqueles que já são crentes, uma fé simplesmente racional ou intelectual não basta. É preciso que a pessoa se aproxime de Deus não só com o entendimento, mas com os sentimentos. Cabeça e coração (luz e calor) devem funcionar juntos na vida conduzida pelo Espírito. O próprio Edwards era um exemplo disso. [Ver D.M. Lloyd-Jones, Jonathan Edwards e a Crucial Importância de Avivamento, PES, 12-18.]
  • Em todas as suas obras Edwards insistiu na importância dos afetos profundos na vida espiritual. Por "afetos" ou "afeições" ele se referia às disposições do coração que nos inclinam para certas coisas e nos afastam de outras. Todas as nossas ações derivam dos nossos desejos: ou nos comprazemos no Deus vivo e buscamos servi-lo e honrá-lo, ou somos cativos de desejos voltados para alvos menores.
  • Edwards advertiu contra dois grandes erros no avivamento. Primeiro, o mero emocionalismo: os avivalistas podem simplesmente excitar as emoções das pessoas e produzir falsas conversões. Emoções intensas não são uma evidência clara acerca de uma experiência religiosa. No seu grande tratado sobre as Afeições Religiosas, Edwards delineou cuidadosamente testes bíblicos quanto a uma experiência religiosa genuína; eles incluíam uma ênfase na obra graciosa de Deus, doutrinas consistentes com a revelação bíblica, e uma vida marcada pelos frutos do Espírito.
  • O segundo erro é dar ênfase não a Deus, mas às respostas humanas a Ele, algo muito comum hoje com toda a celebração do eu, as experiências pessoais, os testemunhos auto-congratulatórios. Edwards insistiu em que a essência da verdadeira espiritualidade é ser dominado pela visão da beleza de Deus, ser atraído para a glória das suas perfeições, sentir o seu amor irresistível.
  • Portanto, na verdadeira experiência cristã, o conhecimento de Deus é algo sensível, experimental. A verdadeira experiência cristã consiste não somente em conhecer e afirmar doutrinas cristãs verdadeiras, por importantes que sejam, mas é um conhecimento afetivo, ou a consciência das verdades que a doutrina descreve. Difere do conhecimento especulativo, assim como o sabor do mel difere do mero entendimento de que o mel é doce. O cristão, diz Edwards, "não apenas crê racionalmente que Deus é glorioso, mas têm em seu coração o senso da majestade de Deus."
  • Se nossos corações são transformados pelo amor de Deus, assim devem ser transformadas as nossas ações. Se somos mudados ao contemplarmos a beleza do amor de Deus, então amaremos de maneira especial todo ato de virtude que reflete o caráter amoroso de Deus.

Conclusão

  • Jonathan Edwards acreditava na importância e necessidade do avivamento. Ele viu o Grande Despertamento como uma obra do Espírito de Deus, revitalizando e capacitando a igreja para a sua missão no mundo. Ao mesmo tempo, ele estava consciente de desvios, excessos e até mesmo atuações satânicas que produziam excentricidades, descontrole emocional, ostentação e escândalos.
  • Porém, ele entendia que tais problemas não invalidavam os aspectos positivos do avivamento e, mais ainda, que alguns dos "fenômenos" ou "manifestações," ainda que inusitados, eram admissíveis diante das experiências profundas da graça de Deus que muitas pessoas estavam tendo, inclusive a sua esposa. Tais coisas, em si mesmas, nada provavam.
  • Os critérios que realmente indicavam se as conversões e o despertamento eram genuínos ou não eram os frutos visíveis: convicção de pecado, seriedade nas coisas espirituais, preocupação suprema com a glória de Deus, apego profundo às Escrituras, mudanças no comportamento ético, relacionamentos pessoais transformados e influência transformadora na comunidade.
  • Só esse tipo de avivamento será uma bênção para as nossas vidas, nossas igrejas e nosso país.

Fontes:

  • D.M. Lloyd-Jones, Jonathan Edwards e a Crucial Importância de Avivamento (São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas)
  • Mark A. Noll, A History of Christianity in the United States and Canada
  • Paul Helm, "Edwards, Jonathan (1703-1758)," em New International Dictionary of the Christian Church
  • "Jonathan Edwards and the Great Awakening," Church History IV, no. 4, especialmente os artigos "Colonial New England: An Old Order, A New Awakening," de J. Stephen Lang e Mark A. Noll; "My Dear Companion," de Elisabeth S. Dodds; "Edwards’ Theology: Puritanism Meets a New Age," de Richard Lovelace; e "Jonathan Edwards Speaks to our Technological Age," de George M. Marsden.
  • Luiz Roberto França de Mattos, "Jonathan Edwards and the Criteria for Evaluating the Genuineness of the ‘Brazilian Revival’," Tese de Mestrado em Teologia, Centro de Pós-Graduação A. Jumper, 1997